Conheça projeto de empoderamento feminino criado por Colaboradoras da L’Oréal
Iniciativa criada por Ana Nascimento e Lívia Ferreira tem objetivo de dar voz e incentivo a mulheres pretas cientistas
Quantas cientistas negras você conhece? Já se questionou sobre a falta de representatividade feminina e negra nos espaços científicos? Para mudar cada vez mais essa realidade, Lívia Ferreira e Ana Nascimento, Analistas de Laboratório no Centro de Pesquisa & Inovação da L’Oréal Brasil, se uniram para criar o projeto Pretas na Ciência. A iniciativa, que nasceu neste ano por meio do subsídio do Consulado Americano no Rio de Janeiro, é uma rede com o objetivo de incentivar, fomentar e empoderar mulheres pretas que estudam e/ou trabalham nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Que tal saber como tudo começou e como é o trabalho que vem sendo feito até agora pela dupla de cientistas?
Falta de representatividade negra nos espaços acadêmicos e corporativos motivou a criação do Pretas na Ciência
Segundo as idealizadoras, a ideia do projeto surgiu a partir de um misto de inquietação e vontade de mudar o mundo enquanto mulheres negras que não viram muita representatividade ao longo de suas trajetórias profissionais. “Na universidade, tivemos pouco contato com outras mulheres negras, sejam alunas ou professoras. E o cenário não mudou quando entramos para o meio corporativo, onde ainda há poucas lideranças negras. Percebemos o quanto o machismo, o racismo e a falta de oportunidades impossibilitavam a presença de mulheres negras no meio acadêmico e em cargos de poder”, destacou Ana.
Por isso, quando souberam de um edital para iniciativas educacionais oferecido pelo Consulado dos Estados Unidos, as duas não pensaram duas vezes e decidiram que era a hora de criar algo para mudar essa realidade. “Fomos um dos projetos vencedores e, por isso, seremos financiadas por eles durante o período de 12 meses. Além disso, temos outras parcerias importantes de empresas que acreditam na valorização da diversidade como forma de diminuir as desigualdades sociais. Um de nossos propósitos é trabalhar com afroempreendedores e, assim, fomentar o trabalho da comunidade negra em geral. O projeto acaba de completar o seu primeiro mês de funcionamento e estamos abertas a novas parcerias”, destaca Lívia.
Ações do projeto Pretas na Ciência buscam criar ponte entre as oportunidades e as mulheres negras
E por falar em propósitos, o Pretas na Ciência tem um principal - e pra lá de ambicioso: ressignificar e construir uma nova realidade. “Queremos fazer a ponte entre as oportunidades e as mulheres negras. E, para alcançar esses objetivos, algumas ações estão sendo colocadas em prática”, destaca Ana. A primeira delas, segundo a cientista, é a valorização das profissionais e estudantes da área de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática a partir do compartilhamento de suas histórias e desafios. “Dessa forma, naturalizamos a presença de mulheres negras nessas áreas e, ao mesmo tempo, fornecemos inspiração para outras mulheres que estão no mesmo caminho”, explica ela.
Tudo isso é feito no perfil do Instagram (o @pretasnaciencia), espaço em que elas também compartilham e divulgam oportunidades tanto na área acadêmica quanto corporativa. Além disso, outras iniciativas do projeto são o programa de mentoria - que terá início em 2021 para ajudar as seguidoras do projeto a conseguirem as melhores oportunidades dentro de suas áreas -, além dos Workshops, que se iniciam ainda este mês.
“No dia 27 de novembro teremos nosso primeiro evento com a Prof. Dra. Rita de Cassia dos Anjos, uma das laureadas de 2020 do programa Para Mulheres na Ciência. O principal objetivo dos workshops é, além de inspirar, deixar algo de concreto para as participantes, oferecendo direcionamentos valiosos para elas”, explica Lívia. Com isso, segundo ela, o objetivo é abrir cada vez mais portas para essas mulheres. “Elas irão dar as mãos para outras mulheres e essa rede irá continuar até que a gente consiga tornar nossa sociedade mais justa para as mulheres negras”, reflete.
Por que empoderar cientistas negras? Conheça a trajetória das idealizadoras Ana Nascimento e Lívia Ferreira
E por que o empoderamento feminino negro na ciência é tão importante? Um dos motivos é para que trajetórias de sucesso como as da dupla sejam cada vez mais comuns. Lívia, por exemplo, possui mestrado e cursa doutorado em Ciência e Tecnologia de Polímeros, mas é a primeira de sua família com um nível de educação tão elevado. Aos 18 anos, depois de ouvir que ser química seria difícil demais para uma aluna de escola estadual, ela entrou no curso de Licenciatura em Química e se surpreendeu com a realidade. “Posso contar nos dedos de uma mão os professores negros que tive no ensino superior. Essa falta de representatividade ao mesmo tempo que me deixava triste, me impulsionava. Eu pensava: ‘se não tem nenhuma negra, então eu vou ser a primeira’”, lembra.
De lá pra cá, ela teve a oportunidade de estudar e morar no Canadá por meio do programa Ciência Sem Fronteiras, finalizar sua graduação e continuar sua especialização. Hoje, Lívia trabalha desenvolvendo novas tecnologias em proteção solar no Centro de Pesquisa & Inovação da L’Oréal Brasil - lugar onde conheceu Ana. Sua colega de trabalho (e de projeto!) é carioca, mas começou a trajetória acadêmica em Manaus, onde morava na época. Nesse período, Ana também teve a oportunidade de participar de um programa de intercâmbio subsidiado pelo governo americano para estudantes da região norte e, foi premiada pelo Programa de Pequenas Bolsas (GEF-PNUD SGP) no Brasil no ano de 2013, com o projeto Green Ideas.
“A partir daí, descobri que eu gostava muito de trabalhar com algo que transformasse de alguma forma a perspectiva das pessoas, sobre o mundo e sobre si mesmas. Por isso, decidi entrar para a área de cosméticos, para unir meu amor pela ciência e minha paixão pela beleza”, conta Ana. Na época, finalizando sua transição capilar e ressignificando suas raízes como mulher negra, ela ingressou na L’Oréal e seguiu seu sonho. Hoje, trabalha como Analista de Laboratório de Makeup enquanto finaliza sua pós-graduação em Design de Interação e Experiência do Usuário. “Minha missão é proporcionar beleza e conhecimento em diferentes formas para diferentes mulheres, para que cada uma se sinta confiante e livre para ir em busca de realizar os seus sonhos”, finaliza.
Quer participar do projeto? Confira o recado da dupla!
Se você se interessou pela proposta do Pretas na Ciência, basta seguir as páginas do projeto no Instagram e LinkedIn. Por sinal, vale destacar que elas estão iniciando a construção de uma equipe multidisciplinar voluntária que irá ajudar a coordenar a página e a amplificar o projeto. “Precisamos de pessoas que sonhem esse sonho junto conosco, porque sonhos coletivos são mais fortes!”, disse Lívia. E aí, que tal fazer parte da mudança?