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Qual o papel das empresas na pauta de Direitos Humanos?

A L’Oréal Brasil conversou com Tayná Leite, Gerente Sênior de Direitos Humanos e Gênero do Pacto Global da ONU no Brasil, para falar sobre o assunto

A L’Oréal tem um grande compromisso em termos de liderança ambiental, social e ética. Além de toda a agenda de impacto social e responsabilidade da Companhia, a chegada de Helen Pedroso ao Comitê Executivo da L’Oréal Brasil, em junho deste ano, no novo cargo de Direção de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos, representa um marco para aceleração dessa agenda na empresa.

Helen também foi nomeada correspondente de Direitos Humanos pelo Grupo L’Oréal e irá contribuir com a implementação de planos de ação para abordar questões relevantes sobre o tema no mercado.

A L'Oréal está empenhada em apoiar os Direitos Humanos reconhecidos internacionalmente em toda a sua cadeia de negócios e valor, de acordo com os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos (UNGPs).

A Companhia foi primeira a apoiar o movimento Salário Digno do Pacto Global da ONU Brasil, no qual todos os colaboradores da empresa recebem uma remuneração para viver adequadamente, garantindo acesso às necessidades para além das essenciais. E, até 2030, todos os funcionários dos fornecedores estratégicos da empresa também terão um salário digno.

Em comemoração ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado em 10 de dezembro, a L’Oréal Brasil entrevistou Tayná Leite, Gerente Sênior de Direitos Humanos e Gênero do Pacto Global da ONU no Brasil para falar sobre o papel das empresas no assunto.

L’Oréal Brasil: Qual o papel de uma empresa na pauta de Direitos Humanos? Como se diferencia de governos e ONGs?

Tayná Leite: O Pacto Global advoga dez princípios universais, que as organizações que passam a fazer parte da iniciativa comprometem-se a seguir no dia a dia de suas operações - em linha com a principal referência sobre conduta empresarial responsável - os Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos (POs).

Os POs estão organizados em três pilares: Proteger, Respeitar e Remediar. Os Estados possuem o dever de proteger e garantir os direitos humanos e as liberdades fundamentais em seus territórios e jurisdições. Já as empresas têm a responsabilidade de respeitar os direitos humanos em suas operações e cadeias de valor.

Em termos práticos, isso significa não apenas assumir um compromisso público de respeitar os direitos humanos, mas implementar um processo contínuo de devida atuação a fim de prevenir e mitigar impactos negativos às pessoas. Dessa forma, ambos os Estados e as empresas devem prover reparação efetiva e adequada quando forem identificados impactos negativos decorrentes das atividades empresariais.

LB: Como avalia a evolução da liderança de grandes empresas nesse tema?   Por exemplo, na L’Oréal temos uma Diretora em posição C-Level com o cargo de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos porque isso é importante para agenda 2030. Você observa uma tendência nesse sentido?

TL: O engajamento da alta liderança é essencial, mas infelizmente ainda não é tendência. Por exemplo, recentemente, apresentamos em Genebra, no escopo do 11º Fórum de Empresas e Direitos Humanos da ONU, os resultados da primeira edição da nossa Trilha de Direitos Humanos.

A ferramenta inédita, desenvolvida em parceria com a Proactiva Results, contou com as respostas de 107 empresas brasileiras. As empresas analisadas são de 12 setores, como serviços, agronegócio e florestal, indústria, infraestrutura, tecnologia, transportes, energia, alimentos e bebidas, extrativa, entre outras, sendo que 87% delas têm matriz brasileira.

O que notamos lá é que as empresas já entenderam que este tema existe, que ele é importante, mas é preciso aterrissar e incorporar à estratégia dos negócios. Quase 90% das respondentes adotaram um compromisso público de respeitar os direitos humanos internacionalmente reconhecidos. Mas apenas 26% têm uma política específica para direitos humanos.

LB: Quais os principais desafios e as oportunidades nesse tema?

TL: Ainda me referindo aos resultados da primeira edição da Trilha de Direitos Humanos, quero destacar alguns pontos que nos iluminam essa questão.

•         Os três temas em que as empresas estão mais avançadas na gestão de riscos e impactos são: meio ambiente (92%), saúde e segurança ocupacional (78%) e trabalho forçado e análogo à escravidão (75%).

•         Os três temas em que as empresas apresentam mais desafios na adoção de medidas para endereçar os riscos e impactos são: salário digno (20%), clima (27%) e impactos adversos a comunidades locais, povos indígenas e comunidades tradicionais (41%).

•         Na gestão do tema de igualdade, diversidade e inclusão, as empresas adotam mais medidas em relação às mulheres (62%) e menos medidas para migrantes e refugiados e refugiadas (35%).

É importante destacar que ainda estamos longe de estar avançado em qualquer uma das agendas. A média de aderência geral é de 52%, mas há sim muito mais a fazer em algumas áreas do que em outras. O momento é propício, o solo é fértil, pois as regulamentações estão crescendo, investidores cobrarão cada vez mais e a sociedade também. Há uma oportunidade de negócios e também de um novo marco empresarial civilizatório.

LB: Poderia dar uma mensagem de prioridades a serem perseguidas em nível Brasil?

TL: Trabalhar com direitos humanos no setor privado, de forma propositiva, ainda que crítica, requer criatividade e resiliência. É trabalho de formiguinha. Olhamos lá na frente, ao mesmo tempo em que contamos os passinhos que até lá nos levarão. A jornada fica mais clara e acelerada quando vamos juntas e juntos. Não há mundo possível ou desejável sem direitos humanos.