Sete pesquisadoras brasileiras ganham o prêmio Para Mulheres na Ciência 2024
Iniciativa do Grupo L’Oréal, em parceria com a UNESCO e Academia Brasileira de Ciências já contemplou mais de 120 pesquisadoras do país com bolsas de R$50 mil reais
Impacto de antidepressivos e ansiolíticos em ecossistemas aquáticos, tratamento alternativos e sustentáveis para infecções bacterianas e estudos sobre as novas propriedades de um buraco negro são alguns dos temas de pesquisas das vencedoras da 19ª edição do Para Mulheres na Ciência, iniciativa realizada pelo Grupo L’Oréal no Brasil em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a UNESCO no Brasil.
O principal objetivo do prêmio é promover e reconhecer a participação da mulher na ciência, favorecendo o equilíbrio dos gêneros no cenário brasileiro e contribuir para o papel chave que elas desempenham na transformação social.
“Há 19 edições no Brasil, nos dedicamos a apoiar mulheres na ciência. Acreditamos que a ciência é a chave para solucionarmos os desafios sociais, e os projetos das nossas laureadas são a prova de que a inclusão no ambiente científico é fundamental para maior inovação e contribuição. Queremos ver mulheres cientistas liderando e sendo protagonistas da própria história”
, comenta Cristina Garcia, Diretora de Pesquisa Avançada e Comunicação Científica do Grupo L’Oréal para América Latina.
Como investimos em mulheres na ciência?
Comprometido e aliado ao empoderamento feminino, o Grupo L’Oréal reforça ano após ano o seu papel em apoiar os desafios sociais e contribuir para quebrar estereótipos. Todos os anos, o programa premia sete pesquisadoras com uma bolsa-auxílio de R$50 mil reais nas áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Ciências Matemática. Desde 2006, mais de 120 cientistas foram premiadas totalizando um investimento de mais de R$6 milhões em pesquisas no Brasil.
Apesar do número de cientistas no Brasil avançar, com crescimento de 29% nos últimos anos de acordo o relatório da Elsevier-Bori, e as mulheres serem grandes contribuidores para artigos científicos no país, o documento mostra que houve uma diminuição da velocidade de crescimento da participação de mulheres nas áreas de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática), em comparação com o crescimento total de todas as áreas somadas. Além disso, a carreira científica para mulheres ainda é um grande desafio, principalmente para aquelas que almejam cargos de liderança.
O prêmio será entregue no dia 27 de novembro, em cerimônia fechada realizada no hotel Fairmont, no Rio de Janeiro. A iniciativa faz parte de um programa global que contempla anualmente mais de 350 jovens cientistas pelo mundo em 110 países por meio das iniciativas regionais e nacionais.
Conheça abaixo as vencedoras:
Ciências da Vida
A bióloga Raquel Aparecida Moreira, professora na Universidade de São Paulo (USP), investiga como a presença de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos impactam organismos dos ecossistemas aquáticos. Sua hipótese é que, assim como esses medicamentos alteram o comportamento humano, as medicações podem também alterar o comportamento de animais aquáticos. A pesquisadora irá avaliar se, na presença desses medicamentos, peixes e crustáceos mudam a forma como reagem a ameaças, como a presença de um predador, e investigar se, após exposição prolongada, esses animais desenvolvem dependência química aos compostos estudados. Para Raquel, é fundamental reconhecer as interconexões entre saúde humana, saúde animal e saúde ambiental, uma perspectiva, conhecida como “one health” ou saúde única. O estudo da ecotoxicologia – ou seja, dos diferentes efeitos da contaminação ambiental sobre a saúde dos ecossistemas e a biodiversidade – é essencial para a gestão da qualidade da água, do solo e da saúde pública.
Já a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Manuela Sales Lima Nascimento, também vencedora da categoria Ciências da Vida, vai investigar a infecção congênita causada pelos agentes da sífilis e da toxoplasmose. A pesquisa pioneira tem como objetivo avaliar se essas infecções congênitas causam alterações no sistema imunológico dos bebês. A hipótese é que a exposição intrauterina aos agentes infecciosos pode remodelar a resposta imunológica das crianças, levando a diferentes graus de imuno regulação e/ou imuno comprometimento. Os resultados da pesquisa vão ajudar a orientar o acompanhamento clínico de bebês com infecções congênitas, por exemplo, em relação a que vacinas eles precisam tomar e em que momento.
Outra vencedora da categoria Ciências da Vida foi a Luisa Campos Caldeira Brant, que deseja implementar o uso de aplicativos para celular no atendimento à saúde após alta hospitalar – como líder na área cardiovascular, o seu foco maior está em doenças relacionadas ao campo. Um tempo atrás, ela contribuiu para o desenvolvimento de um aplicativo em um projeto em parceria com cinco universidades norte-americanas, liderado pela Universidade Stanford, e agora está adaptando a metodologia para o contexto brasileiro, como professora na Universidade Federal de Minas Gerais. Por exemplo, nas recomendações de mudanças de estilo de vida dos pacientes, a ferramenta sugere dietas focadas nos alimentos disponíveis no Brasil, e atividades físicas que fazem parte do nosso dia a dia. Luisa espera que a plataforma digital possa, no futuro, ser de fato aplicada à prática clínica no Brasil e adaptada para o acompanhamento de pacientes com outras condições de saúde, em especial as doenças crônicas não transmissíveis.
Por fim, o projeto da também laureada por Ciências da Vida, Fernanda Rodrigues Soares, Professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, tem como objetivo desenvolver um teste genético que ajude a orientar o tratamento de pacientes com doença coronariana com obstrução dos vasos sanguíneos do coração, adaptado para o perfil da população brasileira. A maioria dos estudos desenvolvidos sobre o tema tem como base em informações genéticas de populações europeias, e o objetivo da professora, que hoje cursa pós-doutorado na Universidad de Extremadura, na Espanha, é adaptar o estudo para o Brasil. A ideia é que o resultado ajude a identificar se os pacientes têm ou não boa chance de responder ao uso de um medicamento utilizado após a cirurgia de angioplastia, a fim de que o sangue não coagule. Para isso, ela vai coletar dados genéticos e clínicos de pelo menos 500 pacientes que passaram por angioplastia. No futuro, o teste pode se tornar uma ferramenta valiosa para orientar a tomada de decisões clínicas e salvar a vida de muitos pacientes brasileiros.
Ciências Físicas
A professora da Universidade Federal do Pará, Carolina Loureiro Benone está interessada em estudar buracos negros “cabeludos” e suas propriedades. “Gostaria de entender mais sobre esses objetos na presença de matéria, essa é uma forma de pensar em como vamos conseguir, um dia, observá-los no espaço”, explica a pesquisadora. Ela ainda quer investigar a estabilidade de um tipo particular de estrela, chamada de estrela de bósons.
Preditos há mais de um século pela Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, os buracos negros ainda são objetos celestes misteriosos: ninguém ainda foi capaz de observá-los diretamente, embora estejam chegando cada vez mais perto. A professora da Universidade Federal do Pará e laureada por Ciências Físicas, Carolina Loureiro Benone está interessada em estudar buracos negros “cabeludos” e suas propriedades. “Gostaria de entender mais sobre esses objetos na presença de matéria, essa é uma forma de pensar em como vamos conseguir, um dia, observá-los no espaço”, explica a pesquisadora. Ela ainda quer investigar a estabilidade de um tipo particular de estrela, chamada de estrela de bósons.
Ciências Química
Unindo a responsabilidade ambiental com a ciência, a também professora da Universidade Federal do Pará, Marcele Fonseca Passos está buscando um tratamento alternativo para a prevenção de infecções bacterianas em feridas, como a leishmaniose cutânea. A doença comum na região amazônica é transmitida por mosquitos e o tratamento disponível possui um custo alto, com possíveis efeitos colaterais após a sua utilização prolongada. Por isso, o objetivo da pesquisadora é encontrar curativos que sejam eficazes e fáceis de trocar sem causar mais dor ao paciente.
Para isso, utiliza óleos e extratos de plantas da Amazônia. Com a ajuda da nanotecnologia e da bioimpressão 3D, Marcele quer preparar as substâncias para a aplicação em curativos tridimensionais inteligentes, que imitam tecidos biológicos e permitem a liberação controlada da medicação no local da ferida. O desenvolvimento dessa nova proposta terapêutica passa pela exploração sustentável dos recursos naturais, com respeito às comunidades locais e incluindo o conhecimento tradicional no avanço da pesquisa médica. Marcele espera que essa abordagem inovadora possa, um dia, se concretizar em um avanço significativo no tratamento da leishmaniose e outras doenças negligenciadas, e que esteja disponível pelo Sistema Único de Saúde.
Ciências Matemática
Formada em estatística e professora na Universidade Estadual de Campinas, Larissa Ávila Matos, se dedica a desenvolver métodos estatísticos para lidar com situações em que os dados não são perfeitos – por exemplo, quando há informações faltando ou quando os dados são distorcidos de alguma forma. Alguns equipamentos médicos de medição têm limitações, isto é, não conseguem quantificar valores acima ou abaixo de certos limites. A falta de dados precisos dificulta a interpretação de resultados e a tomada de decisões clínicas. Por isso, a pesquisa da Larissa busca soluções para lidar com essas limitações de forma precisa e eficiente.